Como eu descobri que o Alasca tem muito mais a oferecer do que só neve

* Por Rafael Gavião

De onde veio a ideia de ir para o Alasca?

Sempre quando falo para alguém que viajei para o Alasca, imediatamente reparo uma expressão de surpresa, por não ser um destino tão comum para se viajar nas férias além de sempre imaginarem um lugar coberto por neve, ursos polares, e eu andando de sled dog (aquele trenó puxado por cães). Mas a verdade é que minha viagem para o Alasca passou longe disso (e, inclusive,  o próprio sled dog eu vi só em uma apresentação no Parque Denali. Foi algo bem simples, apenas pra ter uma noção de como funciona, sem nem ao menos ser na neve de fato)..

Mas a ideia de ir para o Alasca surgiu de um único objetivo: ver a Aurora Boreal!

Eu sempre fui apaixonado por paisagens, e meu sonho sempre foi morar no alto de uma montanha para conseguir observar a vista diariamente (quem sabe um dia, né!). E um dos eventos naturais que sempre me fascinaram foi a Aurora Boreal, com todo o seu encanto e circunstâncias científicas e físicas, tanto é que por diversos anos carreguei em meu wallpaper do laptop imagens de Aurora Boreal.

Aí vem a pergunta: só é possível ver Aurora Boreal no Alasca? A resposta é que não, mas fiz diversas pesquisas em blogs e sites sobre o assunto e descobri que o Alasca é o lugar que tem o melhor custo benefício para esse tipo de viagem.

Roteiro

Há 4 anos fiz um intercâmbio de férias em Vancouver (metrópole mais próxima do Alasca), e nessa época cheguei a pesquisar sobre ocorrências de Aurora, porque já tinha ouvido falar que também era possível ver o fenômeno do Canadá. No entanto, não foi possível casar os estudos de inglês com a vontade de ver as luzinhas coloridas, que dão o ar da graça em uma cidade no norte do país chamada Whitehorse, a aproximadamente 2:30h de voo partindo de Vancouver.

Voltei para o Brasil com aquele sentimento de que algo ficou para trás, pois apesar de também estar na lista das minhas melhores viagens, a ida ao Canadá sem presenciar as luzes do norte deixou uma sensação de incompletude.

Também nessa ocasião do intercâmbio no Canadá, visitei uma região muito bonita que se chama Rocky Mountains. De carro, a viagem aconteceu em um final de semana com feriado na sexta e acabou deixando para trás alguns lugares a serem visitados foi assim que montei o meu roteiro Canadá-Alasca.

O roteiro foi:
  • Chegada do Brasil em Vancouver
  • Voo para Whitehorse no dia seguinte
  • 3 dias em Whitehorse
  • Viagem para o Alasca de carro por dois dias percorrendo a Alasca Highway
  • 10 dias rodando o Alasca de carro passando por diversas cidades, entre elas Fairbanks, Talkeetna, Anchorage e Seward.
  • 2 Dias retornando para Whitehorse de carro
  • Voo para Vancouver
  • 5 Dias viajando para Rocky Mountains passando por Revelstoke, Lake Louise, Lake Moraine, percorrendo a Icefield Parkway (nossa, esse lugar aqui é um show a parte!), Jasper, entre outros.

Vendo a Aurora Boreal pela primeira vez

Quando comecei a pesquisar sobre Aurora Boreal um item importante era: qual a melhor época para viajar?

Pelos diversos blogs sobre o assunto, os melhores meses para caçar Aurora Boreal é entre Março-Abril e Setembro-Outubro não porque o evento só ocorre nesses meses, mas é que, para se observar as luzes que vêm do norte, é necessário a combinação de alguns fatores: atividade solar intensa e céu limpo.

Na verdade, praticamente todos os dias ocorre Aurora Boreal, mas no inverno, por exemplo, o céu tende a ficar encoberto por conta das nevascas e do mal tempo, que são comuns nessa época do ano. Diante disso escolhi viajar em setembro, quando normalmente o fenômeno ocorre uma  vez a cada três dias. Por escolher essa época do ano, início do outono no hemisfério norte, minha viagem não teve muita neve. Isso foi legal até, porque praticamente todas as atrações entram em recesso no inverno, já que o frio muito intenso impede as atividades ao ar livre.

Whitehorse e os primeiros sinais da Aurora Boreal

aurora boreal - alasca

Chegando em Whitehorse, a temperatura estava em torno de 5º Celsius. Já no aeroporto, notei uma diferença grande de sotaque entre os canadenses de Vancouver e os de Whitehorse, o que resultou em uma certa dificuldade para entender o que o atendente estava falando, mas tudo bem, deu tudo certo e pegamos o carro.

Whitehorse é a capital do estado de Yukon-CA. Gente, imagina um estado maior que o de Minas Gerais só que com uma capital que tem apenas  25 mil habitantes: por volta das 23h ninguém na rua, poucos carros e aquela sensação de cidade fantasma.

Fui seguindo o GPS até o endereço da casa de família que havia alugado para passar os dias na cidade era em uma rua com casa geminadas muito bonitinhas, estilo das casas que vemos em filmes.

Reparei que havia passado do número da casa, parei o carro e fui manobrar na rua pra retornar. Foi então que tive um dos momentos mais inesquecíveis da vida, pois quando acabei de virar o carro me deparei com uma luz verde imensa no céu exatamente na minha frente, foi de arrepiar, parei na hora e falei pra minha esposa com os olhos fixos para o céu “meu Deus, olha isso!”. Ela tomou um susto também deu um grito de espanto e alegria ao mesmo tempo, pois não esperávamos ver a Aurora Boreal de repente e em plena luz da cidade (confesso que até desceram algumas lágrimas).

Em minhas pesquisas, li recomendações dizendo que, para se observar as luzes,você teria que estar em um local escuro, mas a Aurora estava muito intensa e nem mesmo as luzes dos postes tiraram seu brilho.

Nessa hora, saímos correndo com o carro para achar  um local mais afastado da cidade, onde conseguiríamos enxergar tudo ainda melhor. Foi atrás de um posto de gasolina fechado que conseguimos parar e ficar por alguns minutos observando com mais atenção as luzes até que me dei conta que estava em um local bem deserto. Meu receio era surgir um urso ou algum bicho, já que o território é um pouco selvagem, (até porque ser roubado era a menor das preocupações).

Uma coisa interessante foi sentir toda aquela empolgação do momento, e ao mesmo tempo perceber que não tinha ninguém na rua, as pessoas todas em suas casas nenhuma sequer na janela observando aquela maravilha no céu. No outro dia, conversando com a dona da casa onde fiquei hospedado, contei a experiência vivida na noite anterior e comentei sobre não ter ninguém observando as luzes, foi quando ela disse algo assim “Ah, pra quem mora aqui é super normal, não é novidade pra mim”. 

Depois dessa aparição inesperada foram dois dias de céu encobertos e bastante chuva que impediram completamente a visualização das luzes coloridas. Conseguimos ver novamente apenas em Fairbanks, já no Alasca, em um hotel com instalações destinadas a observar a Aurora, chama River’s Edge Resort (recomendo!).

Nessa ocasião em Fairbanks, foi possível registrar diversas fotos das luzes coloridas em tons verdes, roxo e um pouco de vermelho.

Dirigindo pela Alasca Highway

alasca highway

Um dos hobbies que tenho é dirigir, portanto, quando faço uma viagem de carro, a diversão pra mim começa no momento que giro a chave e caio na estrada. Não é a toa que nessa viagem Canadá-Alasca foram 6.500 KM rodados em 24 dias!

Para chegar ao Alasca de carro partindo de Whitehorse é necessário percorrer a famosa Alasca Highway. Para quem não conhece, essa é uma rodovia lendária por ter sido construída na Segunda Guerra Mundial, com o intuito de ligar os EUA ao Alasca através do Canadá, e ela ficou famosa e muito comentada por estar localizada em uma região de difícil acesso, além de ter sido uma obra desafiadora para a época.

Hoje, quando comparamos a rodovia (que é de mão dupla em toda a sua extensão) com rodovias brasileiras, é fácil notar que aqui corremos mais risco do que lá. Digo isso, pois, apesar de ser bastante vazia e com longos trechos (300 km) sem a presença de postos de gasolina e lojas de conveniência, todo o percurso no Alasca é bem sinalizado e conta com pequenas casinhas para dar uma parada e fazer as necessidade fisiológicas  e o mais impressionante: todas com álcool em gel e papel higiênico! Fiquei pensando quem são os responsáveis por abastecer essas cabines…

O trecho que percorremos de Whitehorse a Fairbakns é de 947Km. Para não fazer em uma única viagem, paramos para dormir quase na divisa entre os estados de Yukon e Alasca: Beaver Creek é um vilarejo de beira de estrada com alguns restaurantes e poucas casas à beira da rodovia.Logo pela manhã partimos em direção ao Alasca.

O que fica da Infinita Alasca Highway (Sim, sou fã de Engenheiros do Hawaii) é a  experiência única de percorrer um longo trecho com paisagens deslumbrantes de montanhas altas cobertas por neves, imensos campos abertos com rios formados por derretimento de geleiras e a sensação de vazio de gente mas repleto de natureza intocável ao redor.

Parque e Monte Denali

alasca - monte denali Mesmo com o tempo encoberto, já podíamos ver os picos do Monte Denali ainda a 80km de distância dele

Depois de deixar Fairbanks após 3 dias conhecendo a cidade e caçando Aurora Boreal, foi a hora de descer rumo ao sul pela rodovia que vem margeando o Parque Estadual Denali e tem cerca de 2 milhões de hectares, em uma região selvagem que abriga ursos, lobos, alces, renas e carneiros. Mas o personagem principal do parque é Monte Denali (antigamente chamado de Monte McKinley), que, com 6190 metros de altura, é o ponto mais alto da América do Norte, e o terceiro do mundo.

O parque funciona por completo apenas no verão, e, como visitei no início do outono, não consegui chegar de carro até o ponto mais próximo do Monte Denali, mas deu para registrar as montanhas em algumas fotos e ter a noção de seu tamanho.

Os alpinistas só podem subir o Monte Denali no verão, e dizem que apesar de não ser o pico mais alto dos 7 cumes do mundo, ficando atrás do Everest e Aconcágua, ele é o monte mais perigoso, devido à sua localidade e condições meteorológicas.  

No parque avistei alces, pude  fazer uma caminhada e fiquei com a mão quase congelada ao colocá-la em um rio que vinha de uma geleira em derretimento (sabe aquela água que dá no isopor depois de gelar a bebida por algumas horas? É aquela sensação multiplicada por duas vezes).

Nesse dia dormimos em Talkeetna, que é uma cidade que aparece muito no programa Nos Trilhos do Alasca, que passa em um canal fechado. Eu via muito desse programa antes de ir para o Alasca e consegui chegar próximo a uma locomotiva da Railroad Alasca e registrar esse momento. Quem assiste esses programas que se passam no Alasca sabe a emoção que estou falando!

monte denali - alasca

Ali atrás, um rio de degelo

Mais um pouquinho do Alasca

Depois de passar um dia em Talkeetna, até porque não tem muita atividade por lá, caímos na estrada novamente em direção ao sul. Passamos por Anchorange, onde é possível notar que você realmente está nos EUA, com suas grandes redes de supermercado, lojas de conveniência, restaurantes e demais redes norte americanas.

Mas nosso destino final era Seward, uma cidade à beira de uma enseada do Pacífico onde a atividade principal seria fazer um passeio de barco para observar a vida marinha Infelizmente não foi possível avistar a baleia orca, mas conseguimos ver leões-marinhos, lontras-marinhas, carneiros da montanha, focas e vi até um pequeno iceberg.

Rocky Mountains

rocky mountains - Alasca

Depois desses dias  inesquecíveis no Alasca, a segunda parte da viagem era conhecer os pontos de atração que não foram possíveis conhecer há quatro anos, quando fiz o intercâmbio em Vancouver. Isso quer dizer que estava na hora de ir rumo à região das montanhas rochosas (que, para quem não sabe, são cadeias de montanhas bem altas de rocha e cobertas de neve o ano inteiro, porque devido a sua altitude é sempre frio lá em cima, impedindo o derretimento do gelo).

Quando fui lá pela primeira vez, um dos lagos famosos e bonito que conheci foi o Lake Louise. Ponto de parada obrigatória para quem vai para a região, o lago é muito bonito e forma uma paisagem fantástica, mas já tinha ouvido falar que o Lake Moraine era ainda mais bonito. Eu não acreditava que isso seria possível, mas não é que mais uma vez fui surpreendido??!! 

O Lake Moraine é um lago de água verde rodeado por dois montes e, ao fundo, por mais 7 outros, pontudos, criando uma cadeia similar de picos. A vista é simplesmente impressionante, tanto é que reconheci em alguns livros de paisagens, mais tarde, uma foto similar a que eu tirei do lago.

Uma coisa engraçada é que o tempo por lá muda muito rápido.Nesse dia o sol deu o ar da graça e foi possível registrar algumas fotos, mas poucos minutos depois o tempo fechou e fomos embora.

Outra atração que ficou faltando na primeira ida a Rocky Mountains foi percorrer a Icefield Parkway, que é uma rodovia de 230 km que liga os parques de Banff e Jasper – uma rodovia cênica, pois corta vales rodeados por montanhas altas. Construída com a preocupação de não agredir a vida selvagem do local, ela conta com grades e cercas para impedir que animais sejam atropelados e suas pontes imitam a flora local, com a intenção de deixar os animais mais confortáveis.

Vai ficar na memória

Considero viajar um investimento para a vida e para a saúde. Uma vez li uma frase que dizia “viajar é a única coisa que você gasta dinheiro, mas nos deixa ricos”. É verdade! Viajar é muito mais valioso do que gastar com bens materiais que passam, caem em desuso, ou estragam – muito pelo contrário:  viagens ficam na memória, as pessoas que viajam tendem a ser pessoas mais interessantes de se conversar.

Essa viagem Canadá-Alasca vai ficar na posição de uma das mais fantásticas que realizei! Voltei de lá com a cabeça tão leve e, ao mesmo tempo, com algumas preocupações a nível climático. De fato são nesses locais da terra que podemos notar a consequência da nossa vida moderna aqui embaixo, nosso  impacto no meio ambiente, e, por isso, serve também para ajudar a proliferar a consciência ambiental nas pessoas.

* Rafael Gavião é Coordenador de Desenvolvimento na MaxMilhas, apaixonado por viagens e recentemente pai do Davi, o novo integrante da família que também vai cair na estrada!!!

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